Uma história secreta na Campo das Letras
Cá está um livro que é dos tais casos de fronteira entre o que é e o que deixa de ser literatura fantástica. Depois de dar ao seu livro o enorme título de D. Sebastião Morreu Velho no México Casado com uma Índia, Jorge Marques escreve aquilo que deve ser apenas uma história secreta (escrevo "deve ser" porque não li mais que o marketing da editora), isto é, um livro em que personagens da história real se desenvolvem por caminhos que não são os que seguiram na realidade, mas sem que isso afecte a linha histórica que todos conhecemos. Histórias secretas são, portanto, parentes próximos das histórias alternativas (estas claramente parte da literatura fantástica), faltando-lhes apenas chegar às últimas consequências para que passem de parentes a componentes.
No caso deste livro, parece estarmos perante algo de semelhante a O Regresso de D. Sebastião, de Maria Moura-Botto (do qual há uma crítica minha no E-nigma). Até o protagonista é o mesmo, só a direcção que seguiu depois de não ter morrido em Alcácer Quibir foi diferente: no Regresso..., o nosso ex-rei foi parar à Ásia, e no D. Sebastião... acabou na América.
A editora divulgou o seguinte extracto da obra:
Decorridos poucos meses, eu estava apaixonado por Zahara uma das minhas duas vizinhas daquele harém especial. Zahara, que na nossa língua quer dizer Venús, tinha este nome porque um astrólogo do Egipto, chamado José, quando ela nascera, lhe descobrira uma linha rara na mão, uma linha conhecida pelo arco de Venús. Segundo ele, marcava Zahara uma capacidade muito rara para as artes do amor, para as fantasias do amor. Não sei se era por isso, era ela sempre que tomava as iniciativas, era ela que me sabia amar, tocar em todos os meus pontos do meu corpo e da minha alma. Foi com Zahara que, pela primeira vez, conheci o corpo de uma mulher, com quem descobri o prazer dessa relação física, tinha quase 25 anos.
Abençoei nesse dia todo o meu tempo de castidade, de recusa de entrega, em nome daquele momento divino.
Tinha valido a pena esperar.
Fui sempre mal entendido, quando na corte me recusava a casar, primeiro com Margarida, depois com Isabel e por fim com Isabel Clara.
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