Os Pensamentos soltos de uma mente dispersa
(Luís Rodrigues)
Tenho de dizer que concordo com o Jorge Pires em vários, embora não todos os, pontos que referiu. Também não concordo com o Jorge Candeias quando ele diz que "toda a FC é isto ou aquilo", e embora a FC tenha de facto determinadas propensões, certas generalizações dispensam-se. Pena é não ter muito tempo, porque gostava de dar mais que uma ligeira achega aos seguintes tópicos:
Primeiro, o facto de Philip K. Dick ser um escritor medíocre. Falar de "Arte" (com A maiúsculo) quando se fala de Dick pode ser perigoso se não se sabe por que ponta lhe pegar, ou seja, na explosibilidade e delírio das suas ideias, já que ao nível da escrita o homem pouco tinha de brilhante. A popularidade que Dick atingiu em determinados meios literários (o francês, por exemplo) deve-se em muito às traduções que lograram ser melhores que os textos originais. Mesmo assim, acredito que o escritor merece todo o mérito que tem, não se deixem enganar por estas palavras mais duras.
Também acho que ambos os Jorges estejam a falar da mesma coisa, embora separados por um rótulo com duas conotações distintas: o Jorge Pires acredita que a FC tem de ser Científica, enquanto me parece que o Candeias tenha uma visão mais alargada do género, no sentido de ser Ficção espeCulativa (em inglês, sf tanto dá para science fiction como para speculative fiction). É preciso salientar contudo que o importante na ficção científica não é a veracidade dos factos (porque se fossem verdadeiros, não seria ficção), mas sim a boa aplicação do método científico às situações. Assim, muitos consideram que Frankenstein de Mary Shelley é o primeiro romance científico da história da literatura, já que se baseia na hipótese que o corpo é animado pela electricidade, e que do mesmo modo que se podem pôr sapos a bailar num estendal electrificado, também um ser humano podia — quem sabe? — ser reanimado graças a uma descarga eléctrica potente.
O terceiro ponto é o "caixote do lixo da História", e que ao contrário que o Jorge Pires parece inferir, nem sempre é medida de qualidade. Que esse fascista asqueroso chamado Robert Heinlein não tenha ido parar ao referido caixote, sem passar pela casa de partida e sem receber $2000, e que em vez disso seja reconhecido como um "génio" da ficção científica é exemplo que chegue. Tolkien é outro, com a agravante de chamarem "literatura" e "livro do século" ao Senhor dos Anéis. Porque não só estes senhores não sabiam escrever, advogavam ainda ideias profundamente reaccionárias. Enquanto isso, escritores realmente brilhantes como Bayley e Peake permanecem na relativa obscuridade.
O quarto e mais polémico dos pontos é o "síndroma de gueto" que afecta muitos apreciadores de fc, uma mistura de arrogância galopante com manias da perseguição. É algo que dá pano para mangas, por isso fica aqui o desafio para a sua discussão acalorada neste e noutros locais.
1 Comentários:
Em 6:59 da tarde, Anónimo escreveu…
Curiosidade... em português do Brasil seria "exploDibilidade" (e não exploSibilidade). Foi um lapso ou a ortografia é diferente?
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