Regras do Não Fazer
(Luís Filipe Silva)
Conhecido pela sua postura iconoclástica dentro de um género que é mais conservador que o estatuto underground faria prever, Bruce Sterling compilou o que entendeu por Workshop Lexicon, que resume num único texto as manias e tiques dos autores e do discurso da ficção científica moderna, indispensável para quem quiser lê-la, entendê-la e contrariá-la.
Neste, são apresentados os principais temas relacionados com Explicação (o meu termo para «exposition», basicamente a arte de mostrar o cenário e o mundo inventado de formas subtis), Personagens, Enredo e Estrutura Gramatical. De todos, os que pessoalmente menos concordo e sigo são os relacionados com a construção frásica e o estilo - por um lado, porque o anglo-saxão não tem a beleza e sonoridade de uma língua latina como a nossa (a não ser que saia pela pena de um Poe ou de um Wolfe), e por outro, porque o estilo é do mais importante num livro, e se não for não merece ser lido, não é então romance mas sim argumento para outro meio.
As regras, em arte, são para ser contrariadas. Se não estiverem escritas, tanto melhor, mas mais difícil se torna. E neste país, que não acarinha uma pesquisa científica sobre a literatura fantástica, é importante percebê-las. Este trabalho de compilação ajuda-nos a olhar no espelho - todas as nossas histórias acabam por encaixar mais ou menos numa ou noutra classificação. Parte de nós, e parte então de vocês enquanto também leitores, perceber a banalidade, isolá-la e caçá-la impiedosamente até deixar de respirar.
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Principal