O Público está também muito desactualizado
(Luís Rodrigues)
Dos livros que vêm referidos no Público de hoje (ver post abaixo), ambos os do Philip Pullman já foram editados há muito, muito tempo. Seja como for, são de leitura obrigatória, faltando apenas o terceiro, O Telescópio de âmbar, que também já foi editado.
As comparações desta trilogia com Harry Potter são inevitáveis, mas aqui Rowling é superada a todos os níveis: Pullman renega as personagens e situações estereotipadas, o sentimentalismo empacotado, o facilitismo das fórmulas. Pullman não se repete, e cada livro leva mais longe as consequências do anterior, tecidas com mestria numa trama complexa e redolente de emoção. Refere-se a Milton, Blake, Donne, à Bíblia; nunca ao óbvio e doentiamente católico C. S. Lewis. Recusa-se a tratar o seu público alvo — os jovens — como atrasados mentais, e agita temas complexos e provocadores como a religião, o livre arbítrio e a natureza da realidade, sem moralismos nem paternalismos. Ao longo da série, Pullman lança um feroz ataque à religião organizada, através da qual o Céu está convertido num imenso campo de concentração espiritual. Note-se que este está longe de ser um ataque gratuito, mas sim um elogio ao valor humano, separando a bondade de cada acto de quaisquer obrigações de carácter religioso ou político, dos frios actos de caridade que não são mais que veículos de promoção social.
Os Reinos do norte, A Torre dos anjos e O Telescópio de âmbar podem ser encontrados na secção de livros infantis das melhores livrarias. Mas não se deixem iludir, que isto é coisa para gente grande.
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