(Luís Filipe Silva)
Enquadrado no âmbito do Primeiro Encontro Literário de FC e Fantástico, que decorreu em Lisboa na primeira semana de Maio de 2004, tinha planeado preparar um pequeno guia de orientação destinado ao iniciado nestas lides. Esta primeira parte foi a única que saiu, outras estão em preparação, com outros temas.
As Colecções
As colecções de FC em Portugal têm tido comportamentos diferentes ao longo das épocas, algumas são bem sucedidas e continuam, outras rapidamente atingem um estado de letargia do qual, quase sempre, não voltam a acordar. Não parece estar relacionado com a qualidade dos livros, pois na essência quase todas seguem o mesmo tipo de linha editorial: romances provenientes do mercado americano ou do inglês, não excessivamente tecnológicos ou científicos, e concentrados em alguns autores de renome que por uma razão ou outra deixaram marca no público. Algumas apresentam FC inserida num contexto de literaturas populares alternativas (policial, westerns, terror), outras misturam FC pura com Fantástico, outras são apenas de FC. Também se podem dividir entre as que aceitam autores portugueses e as que, a esses, nem vê-los.
A seguinte lista não pretende ser completa, mas um retrato do que se vai passando no de 2004.
Argonauta - a colecção veterana, pois foi lançada no ano do Sputnik e tem-se fielmente mantido constante na publicação de um volume por mês. Formato de bolso, aspecto barato, sofre de grandes variações a nível da qualidade das traduções e dos títulos escolhidos. Recentemente, mudou ligeiramente o formato, para acomodar livros de maior dimensão. Tem uma colecção prima, a Argonauta Gigante, de periodicidade mais errática, mas que no entanto foi responsável por apresentar alguns dos clássicos da FC, nomeadamente Dune e a série Fundação.
Europa-América - foi em tempos a melhor colecção de FC de bolso, e também a mais dinâmica em termos de agressividade de obras e qualidade das traduções. À medida que o foco da editora se concentrava na outra colecção de FC, a Nébula, foi perdendo vigor, diminuiu a qualidade das traduções e passou a publicar muitas novelizações de filmes. A Nébula, por sinal, passou por uma reestruturação recente, e publicou algumas das melhores obras internacionais dos últimos anos. Contudo, sofre do problema da periodicidade errática, ou pelo menos, incompreensível para os leitores.
Viajantes no Tempo: actualmente a mais animada colecção de FC, publicada pela Editorial Presença, que acolhe autores portugueses, entre conhecidos e novos. Apresentou algumas das melhores obras ciberpunk do género (apesar de o movimento já não existir enquanto tal), embora enquadradas por re-edições de livros que já tinham saído outrora em outras colecções (nomeadamente os de Philip K. Dick). Do catálogo em tradução, neste momento, encontra-se Neil Asher e Richard Morgan, alguns dos autores mais badalados da recente FC.
Via Láctea - a outra colecção da Editorial Presença, foca-se mais fortemente no género da fantasia (o que faz da Presença a única editora portuguesa a diferenciar os dois géneros e públicos de forma efectiva). Também publica autores portugueses, nomeadamente Filipe Faria, que se tornou num êxito de vendas.
Portal FC - colecção da Devir, editora especializada em RPG's e banda desenhada, publicou apenas um número há alguns anos, e, embora tendo outros em catálogo, nada mais se soube desta promessa. Há indícios que o segundo número possa sair ainda durante este ano. Esta colecção começou a ser coordenada pelo autor Luís Filipe Silva.
Outras colecções, que já não lançam números novos, marcaram fortemente o panorama da FC em Portugal, pelo que merecem um destaque. Quase todas podem ainda ser encontradas nas feiras dos livros e em livrarias.
Caminho de Bolso - a mais eclética de todas as colecções, da Editorial Caminho, dirigida por Belmiro Guimarães, focada na literatura europeia em permanente contraponto da tendência anglo-saxónica, foi responsável por apresentar alguns dos melhores autores e mais interessantes obras alternativas. Foi também a única outra colecção que publicou autores portugueses de forma consistente e periódica. Pode dizer-se que esta colecção foi responsável pela dinamização inicial da actual FC portuguesa.
Contacto e Limites - ambas as colecções foram coordenadas pelo autor João Barreiros, que apostou na edição de autores desconhecidos no mercado português, mas de grande qualidade e reconhecidos lá fora. Foram colecções breves (duraram apenas alguns anos cada uma) mas apresentaram obras tão importantes como Neuromante e a Longa Tarde da Terra. Da Gradiva e da Clássica Editora, respectivamente.