O Fazedor de Mundos Improváveis
(Luís Filipe Silva)
Os discretos passam pela vida quase em silêncio, e talvez por isso não se tenha dado muito por ele, e agora é tarde, pois morreu esta manhã, durante o sono. Os que berram chamam a atenção, mas também é verdade que nem sempre marcam presença. Ele, Hal Clement de nome, era felizmente autor, pelo que a sua voz ecoará depois do fim - era felizmente ousado, pelo que as suas obras deixam marcas na experiência de novos terrenos - era felizmente cientista, pelo que se poderia ter orgulhado de ter feito, como poucos, ficção científica a sério.
O cenário é tudo na ficção científica dura, e cenário era a personificação de Clement. Mission of Gravity, o seu primeiro livro, decorre num planeta achatado cuja gravidade à superfície é enorme por padrões humanos. Noise, o seu último, decorre num planeta completamente coberto de água. Entre estes, uma multiplicidade de histórias. Ciência, sempre. Ficção, permanentemente.
Vi-o pela primeira e última vez na World Convention que teve lugar em Toronto, há poucos meses. Promovia o seu livro, queixava-se de gralhas e imperfeições que os revisores e editores tinham deixado passar. Discreto, intervindo quando era necessário mas sempre com qualidade. Procurem-no agora na net, nas livrarias. Sic transit gloria mundi.
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